Gastei toda a criatividade com o texto, não sobrou para o título.
Postado por Janine Barcelos às 14:39Quando o amor e o ódio tornaram-se dois pontos quaisquer em um pedaço de papel, desenhei entre eles uma reta, por onde passavam todos os outros sentimentos.
Cada traço, cada forma, cada cor... Era apenas a minha alma se transfigurando através do grafite.
Os primeiros desenhos foram antes do sol chegar. Eram confusos e desordenados. Não existia paralelismo, nem noção de espaço. Tudo era feito aleatoriamente, com traços fortes e espontâneos, porém gentis. Não houve nada além de simples rabiscos.
Quando o sol começava a protagonizar no céu, descobri as cores. Neste momento a primavera chegava no meu desenho: Cores fortes e vibrantes preenchiam os espaços brancos. Comecei a desenhar apenas aquilo que queria ver e não sei o porquê, mas minha alma estava feliz: Subia em grandes árvores de frutos vermelhos que tinham gosto de morango com banana, banhava-se em lagos onde a água era azul bebê, brincava de roda sozinha e quando se cansava, deitava sobre o verde gramado onde tirava um longo cochilo.
Já havia se passado metade do dia. O sol que brilhava mais que o centro da galáxia iluminou com força o desenho. As cores que já eram vibrantes, estavam quase fazendo o papel vibrar junto em uma dança cósmica e os contrastes eram tão fortes que me davam dores de cabeça. Logo aprendi a usar perspectiva. Desenhei dois caminhos estreitos e paralelos que pareciam sumir ao longo de uma planagem. Sumiam no horizonte, parecendo não terem fim. Quando o sol começava a perder sua força, resolvi seguir pelo caminho da direita.
Uma gota de tinta azul cintilante caiu e se difundiu no superior do papel, formando um céu de fim de tarde. Os desenhos que antes eram rabiscos monocromáticos, agora podiam até conversar comigo. Mas comecei a sentir falta de coisas mais simples, traços mais espontâneos e das cores vivas e intensas que agora eram apenas tons pastéis.
A cada passo que dava naquele caminho a minha técnica de desenho melhorava, porém o caminho ficava mais estreito e escuro. Em uma mistura de tristeza e nostalgia comecei a desenhar rostos. Pensei que poderiam me ajudar no momento em que a escuridão roubasse meus olhos. E assim aconteceu...
Com uma voracidade tamanha o céu engoliu o sol, tornando-se negro instantaneamente. Os rostos começaram a falar comigo, mas não demorou muito tempo para eu perceber que a minha própria criação estava me traindo. Neste momento todos os meus sentimentos reduziram-se a um ponto e desse ponto partiram traços violentos, bruscos e hostis. Quando dei por mim o papel estava em pedaços.
Mas o dia ainda não tinha terminado. Ainda restava a noite. Então fui correndo para uma sala onde havia um quadro negro, e com giz comecei a desenhar a lua, mas ela transformou-se em um grande borrão quando as estrelas tornaram-se minhas lágrimas.
E em baixo do céu que chorava desenhei duas montanhas de onde nascia um rio. O rio que nasceu no momento em que minhas lágrimas se tornaram sangue. Sua água era calma, porém profunda. Vagarosamente ele desceu a montanha surrateiro, fez duas dobras, virou não sei para qual lado, e como se já soubesse, morreu onde estava meu túmulo.
Viver é desenhar sem borracha.
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